terça-feira, 3 de maio de 2011

Peyrou



XX
"Silêncio, por fim,
silêncio nos espelhos e nos
livros, silêncio na descida para
o lar. Um filho é o lar mais
órfão, a palavra é um
lar arrendado e alheio,
o esquecimento é um lar sobrepovoado,
o sal nunca existiu e nunca 
será lar. Silêncio perante o vestígio
da aventura, silêncio
a bagagem. A
maior aventura é levantarmo-nos
e desenhar um ser humano nas paredes
da caverna, tocar com novas mãos
a diferença entre o objecto e a sua
representação, derramar e beber a 
criação do conceito. Silêncio
na figura e como fundo o rumor tenso
que o telefone emite em exclusivo para
quem espera inutilmente. Alguém,
é essa a maior aventura,
deveria avisar-me quando se afogar o último
peixe. Então abrirei as portas
de todos os meus lares e que
saia o vento e depois quem
sabe; pelo menos o esquecimento, mais azul
do que branco, mais água do que sal,
daqueles que ficaram mais um instante."

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