quinta-feira, 19 de maio de 2011

Muriel Spark


"Mary Macgregor, embora tenha vivido até ao seu vigésimo quarto aniversário, nunca chegou a compreender que as confidências de Jean Brodie não eram partilhadas com o resto do corpo docente e que a sua história de amor só foi divulgada às alunas. Não pensara muito em Jean Brodie, mas é claro que nunca lhe tivera aversão, quando, um ano depois do início da Segunda Guerra mundial. ingressou na Wrens, onde era desastrada e incompetente e muito censurada. Numa ocasião de verdadeiro infortúnio - quando o seu primeiro e último namorado, um cabo que ela conhecia havia duas semanas, a abandonou, não comparecendo a um encontro e nunca mais a tendo procurado - ela passou em revista o passado para ver se alguma vez na vida tinha sido realmente feliz; ocorreu-lhe  então que os primeiros anos com Miss Brodie, sentada a ouvir todas aquelas histórias e opiniões que nada tinham que ver com o mundo normal, haviam sido o tempo mais feliz da sua vida. Pensou isto de fugida e nunca mais Miss Brodie lhe veio à ideia, mas já tinha ultrapassado o seu infortúnio e recaído na habitual pasmaceira, antes de morrer num incêndio no hotel, quando estava de licença em Cumberland. Mary Macgregor correu para trás e para a frente ao longo dos corredores, por entre o fumo cada vez mais espesso. Correu para um doa lados; depois voltou correu para o outro lado; e em cada uma das extremidades a fornalha do incêndio saiu-lhe ao caminho. Não ouvia gritos, porque o rugido do fogo abafava os gritos; não deu nenhum grito, porque o fumo estava a sufocá-la. Na terceira volta chocou contra alguém, desequilibrou-se e morreu. Mas no início dos anos 30, quando tinha dez anos, lá estava ela apaticamente sentada entre as alunas de Miss Brodie. "Quem espirrou tinta para o chão - foste tu Mary?"
- Não sei Miss Brodie."

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