A livreira aprendeu cedo a ler certas palavras que considerava misteriosas: morte, sofrimento, alegria, prazer, felicidade, dor...
Tentava em vão que os livros lhe explicassem tais mistérios, percebeu depois que, só "na pele" os poderia entender. No meio dos seus livros, meditava sobre um mundo que de vez em quando lhe atirava pedras à cabeça.
E foi entre os livros que acabou por ouvir novamente todas as palavras misteriosas, desta vez não procurou entender, desta vez sentiu. Passou a sentir também que as palavras tem duplos significados, e que por vezes uma só palavra pode trazer atrás uma torrente de tantas outras.
Sem utilizar dicionários sentiu que amar é igual a: felicidade, alegria, prazer.
Recentemente apercebeu-se de uma palavra terrível, uma que se recusava usar por ser feia(e qualquer um pode dizer que não há palavras feias), desta vez a livreira, tão segura no seu mundo de palavras, tão comodamente rodeada pelos seus livros, entendeu e sentiu que cancro é igual: sofrimento, dor, agonia e morte.
A livreira preferia ficar ignorante de certas palavras. Preferia viver somente nos livros e apenas através deles desvendar os mistérios da vida, pois o seu coração de papel acabará um dia desfeito.
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