segunda-feira, 9 de maio de 2011

Helder Moura Pereira (2)




"Sinceramente julgava já ter o luto
feito, mas não tinha o luto feito
coisíssima nenhuma, tal como
Cesariny diz que Álvaro de Campos
fazia, emociono-me - e não consigo
acabar. Bom, isto não é para levar a sério,
às vezes consigo, mas é preciso
não ter nada que me distraia.


Chamar luto a isto é bem visto,
morre o amor como morre uma pessoa.
Mas depois a vida continua, pois
não é verdade, cheia de gente adaptada
às grandes linhas de actuação dos governos.


A propósito de alguma coisa morrer,
hoje tive uma noticia terrível: dois
amigos vão deixar de viver
na mesma cama. Convergiam em tudo 
menos no essencial. No essencial
de agora, que não é o mesmo 
do essencial de outrora. Dizer
que vão deixar de viver 
na mesma cama não é inocente.
Não porque a cama apareça 
a fazer figura de lugar
de grandes actividades sexuais.
Deve ter havido algumas,
mas não é disso que se trata.


A cama era o essencial da união
possível. Ou sonhada. Estava
ali como se fosse um quadro
numa parede, e o amor
podia chegar com admiração
contente de ver o quadro
a mexer-se, a encher-se de pernas
e braços, músculos e abraços."

Sem comentários:

Enviar um comentário