segunda-feira, 16 de maio de 2011

Nuno Júdice


A Voz que Nos Rasgou por Dentro"De onde vem - a voz que 
nos rasgou por dentro, que 
trouxe consigo a chuva negra 
do outono, que fugiu por 
entre névoas e campos 
devorados pela erva? 

Esteve aqui — aqui dentro 
de nós, como se sempre aqui 
tivesse estado; e não a 
ouvimos, como se não nos 
falasse desde sempre, 
aqui, dentro de nós. 

E agora que a queremos ouvir, 
como se a tivéssemos re- 
conhecido outrora, onde está? A voz 
que dança de noite, no inverno, 
sem luz nem eco, enquanto 
segura pela mão o fio 
obscuro do horizonte. 

Diz: "Não chores o que te espera, 
nem desças já pela margem 
do rio derradeiro. Respira, 
numa breve inspiração, o cheiro 
da resina, nos bosques, e 
o sopro húmido dos versos." 

Como se a ouvíssemos." 

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