sexta-feira, 6 de maio de 2011

Jorge Roque


Espectáculo 
"Dois ou três nomes para o silêncio. Disse: dois ou três nomes para o silêncio. Riem-se e continuam a conversa. Dor, dor, dor. Disse: dor, dor, dor. Riem-se de novo e continuam a conversa. Espeta uma faca no peito, abre-o de lado a lado e mostra a carne que sangra. Riem-se ainda (a cena do faquir, comentam, com autoridade de conhecedor). Arranca o coração do peito, estende-o nas mãos em sangue. Reclamam algo mais ousado (é muito fácil o sangue de ninguém). Dobra-se sobre si mesmo para morrer, nas mãos apertando o coração inútil (não havia espectáculo afinal). Voltam a rir, enquanto chamam o empregado para limpar o chão (desfecho tão vulgar para o que se anunciava, concluem). De seguida retomam a conversa."


*Da fabulosa Averno

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