A livreira quando era pequena lembra-se que lhe perguntavam o que gostava de ser quando fosse grande.
- Quero ter um sítio para guardar muitos livros.
Aqueles que esperavam ouvir médica, advogada ou astronauta, ficaram escandalizados (coitada da criancinha!).
A livreira estudava de dia com afinco, mas passava a noite acordada a ler livros. Quantas vezes foi para a escola sem dormir!
Quando entrou na universidade, a livreira arrastava-se com o sentimento de que algo estava mal. Longe de casa, refugiava-se na leitura, por vezes não trazia roupa suficiente para a semana toda, mas os livros não podiam faltar e a mala era pequena.
Mudou de universidade para perto de casa e para novo curso em que sentia que algo poderia nascer. Mas enquanto se debatia para ser uma grande Socióloga o bichinho de criança, de ter um sítio para guardar livros, começou a ser tão grande que era impossível de conter.
Quis o destino que a livreira fosse trabalhar para um sítio enorme, um que guardava muitos livros, mas ainda não era seu, faltava essa parte.
Um dia, depois de oito horas de trabalho, passeia com quem partilha o seu mundo de papel; de repente:
- Pára o carro! Pára agora!
Sai e fica extasiada a olhar para a loja vazia. Olha para o lado e a sorrir diz:
- É esta. É agora. Vamos montar a livraria.
E nesse dia o seu coração de papel, quase se sentiu com vida.
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