sábado, 7 de maio de 2011

Covadlo

"Não lhe custa nenhum esforço reviver o pesadelo, sobretudo porque recorda que, ao sair de Mundossonho, uma vez os olhos abertos, notou que o quarto estava, contra o costume, iluminado pela luz do sol. Deu-se conta de que nessa manhã não o tinham acordado para ir ao colégio. Tinha de ter sucedido alguma coisa grave, o choro da sua mãe e as lamentações do seu pai confirmavam-no. Depois foi a vez dele chorar, quando soube que a tia Elisa tinha morrido na noite anterior. (...) Agora, já não lhe é fácil chorar com lágrimas, apenas pode soltar soluços e beber goles de genebra. Naquele dia, umas horas mais tarde, viu a tia Elisa no seu caixão. Durante anos não soube que ela tinha deixado a vida por vontade própria. A noite tinha-a surpreendido num quarto de uma pensão barata, estava sozinha e decidiu tomar um tubo de pastilhas para dormir. Se ele, neste momento, quisesse fazer o mesmo não poderia: não lhe restava nenhum valium."




*Livros de Areia

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