quarta-feira, 25 de maio de 2011

Margaret Millar



8. Sempre teve vergonha, não só de mim, mas também dela própria.


"Os portões de ferro pareciam ter sido feito para gigantes. Uma buganvília tapava uma vedação de aço com mais de três metros de altura, e as suas flores carmesim pareciam indiferentes aos espigões arredondados que espreitavam sob as folhas, mais afiados do que qualquer arame farpado. Entre a rua e a vedação, vários renques de eucaliptos agitavam a prata das suas folhas como se fossem jogadores enlouquecidos.
A casa de pedra cinzenta do guarda parecia uma prisão em miniatura, com as suas janelas gradeadas e a porta de ferro trancada. Tanto a porta como a fechadura estavam enferrujadas, como se o guarda se tivesse mudado há muito para outra parte do cemitério. Árvores centenárias, suficientemente grandes para estarem próximas do fim do tempo da vida, alinhavam-se de ambos os lados do caminho até à capela. alternando com estrelícias azuis que pareciam prontas a cantar ou a levantar voo.(...)
Só se via uma pessoa, o organista. Parecia estar a tocar para si próprio; talvez tivesse havido um funeral há  pouco e ele tivesse ficado mais algum tempo para ensaiar ou para silenciar um persistente coro de fantasmas."


*(Fabulosa) Averno

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