sábado, 21 de maio de 2011

Lydia Davis



A Empregada Doméstica


"Eu sei que não sou bonita. O meu cabelo é escuro, muito curto e tão fino que mal cobre o crânio. Caminho de forma desengonçada, como se tivesse uma deficiência numa das pernas. Quando comprei os meu óculos, pensei que eram elegantes - a armação é negra e em forma de asas de borboleta - mas agora sei que não me ficam bem e estou presa a eles, uma vez que não tenho dinheiro para comprar uns novos. A minha pele tem a cor da barriga dos sapos e os meu lábios são estreitos. Ainda assim, sou bastante menos feia do que a minha mãe, que é muito mais velha. A cara dela é pequena, enrugada e preta como uma ameixa, e os dentes balançam-lhe na boca. Mal aguento sentar-me em frente dela ao jantar e posso dizer, pelo modo como me olha, que o sentimento é recíproco. 
Há muitos anos que vivemos juntas na cave. Ela é a cozinheira; eu sou a empregada doméstica. Não somos boas serviçais, mas ninguém nos despede porque ainda somos melhores do que a maioria. O sonho da minha mãe é juntar dinheiro suficiente para me deixar e ir viver no campo. O meu sonho é quase igual, excepto num detalhe: quando me sinto furiosa e infeliz, olho para as suas mãos que mais parecem garras, do outro lado da mesa, e desejo que morra engasgada com a comida. Então ninguém me impediria de ir ao seu armário e abrir a sua caixa do dinheiro. Vestiria os seus vestidos e os seus chapéus, e abriria as janelas do seu quarto, para deixar sair o cheiro."

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