terça-feira, 31 de maio de 2011

Bernard Quiriny



QUI HABET AURES...

"Durante as semanas que se seguiram, Renouvier divertiu-se muito servindo-se do seu dom. Começou por operar uma triagem entre as suas relações, ouvindo, sem excepção, todas as conversas que mantinham a seu respeito. Num caderno, traçou duas colunas, anotando do lado esquerdo os nomes dos que ouvia falar bem dele, e do lado direito, os dos outros. Deparou com pressentimentos confirmados, preconceitos desmentidos e algumas surpresas más. A coluna da direita engrossou mais depressa do que a da esquerda, e Renouvier pensou com amargura que as suas crises teriam tido pelo menos a vantagem de o instruir sobre a natureza humana.
Captar as conversas dos seus semelhantes permitiu-lhe igualmente adiantar-se aos seus desejos e responder preventivamente a todas as suas recriminações. A uma tia que se queixava de que ele nunca escrevia, enviou uma longa carta na qual rogava que lhe perdoasse o seu silêncio e prometendo que de futuro lha daria notícias mais frequentes. (...) Aos que ofendera sem dar por isso, enviava flores e um cartão, dizendo-lhes que lamentava muito o sucedido e desfazendo-se em desculpas. Todos se espantavam com a sua lucidez: achavam-no fino psicólogo, perfeito cavalheiro."

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