sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Yukio Mishima (3)


"Num abrir e fechar de olhos, o mundo tinha-se vingado no padre com uma força terrível. Aquilo que ele tinha imaginado estar completamente seguro tinha-se desfeito em ruínas.
Voltou para o templo, contemplou a Imagem Suprema de Buda e invocou o Nome Sagrado. Mas os pensamentos impuros assolavam-no com as suas sombras opacas. A beleza de uma mulher - dizia para si - não era senão uma passageira aparição, um fenómeno carnal temporário - em breve seria destruído. No entanto, por muito que ele tentasse esquecer, a inefável beleza que o tinha impressionado à beira do lago continuava a pressionar-lhe o coração com a força de qualquer coisa que vem de muito longe. O Venerável Padre já não era jovem, nem física nem espiritualmente, para acreditar que este sentimento era uma partida que a sua carne lhe tinha pregado. A carne humana, ele sabia-o bem, não se podia alterar tão rapidamente. Parecia antes que ele tinha estado imerso num veneno subtil que lhe tinha de repente transformado o espírito.
O Venerável Padre nunca tinha quebrado o seu voto de castidade."

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