sábado, 24 de novembro de 2012

Armando Silva Carvalho


A Névoa do Nada

"Deu em cinzento o dia.
A cor da paciência amorosa sobre o corpo
e o mar confundido na névoa
tem a resposta abstracta nos sentidos.

Os sons são a metamorfose dos gemidos do mel,
esse manjar bíblico de núpcias decantadas,
e agridem na sua rigidez cinzenta 
a audição passiva.

Os olhos no opaco,
o sabor no vento transtornado,
o olfacto húmido de salinosa angústia
o desflorar a pele,
o frio abraço da separação
da luz.

Uma lição sensual, arrastada pela bruma
que dos versos sempre soube ser
a mais fiel amante.
Altas as aves, recortam-se no céu,
indecifráveis, vãs. 

É a vida temível que se ateia nas vozes
mais ocultas da melancolia.
O tempo adensa sem saber o nada,
o amor é o dia"

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