"Os meus livros (que não sabem que existo) São uma parte de mim, como este rosto De têmporas e olhos já cinzentos Que em vão vou procurando nos espelhos" Jorge Luis Borges
sábado, 24 de novembro de 2012
Armando Silva Carvalho
A Névoa do Nada
"Deu em cinzento o dia.
A cor da paciência amorosa sobre o corpo
e o mar confundido na névoa
tem a resposta abstracta nos sentidos.
Os sons são a metamorfose dos gemidos do mel,
esse manjar bíblico de núpcias decantadas,
e agridem na sua rigidez cinzenta
a audição passiva.
Os olhos no opaco,
o sabor no vento transtornado,
o olfacto húmido de salinosa angústia
o desflorar a pele,
o frio abraço da separação
da luz.
Uma lição sensual, arrastada pela bruma
que dos versos sempre soube ser
a mais fiel amante.
Altas as aves, recortam-se no céu,
indecifráveis, vãs.
É a vida temível que se ateia nas vozes
mais ocultas da melancolia.
O tempo adensa sem saber o nada,
o amor é o dia"
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