sábado, 10 de novembro de 2012

José Tolentino Mendonça (4)

Escrito num livro de horas

"Enquanto as cidades costeiras
o coro trágico da posteridade
aspira o ar
como funcionário que se prepara
para as tarefas do dia
avisto os teus olhos

Os teus olhos deveriam ter nascido em épocas diferentes
em mundos diferentes
não neste lugar panorâmico e incurável
onde os sentidos são
repetidamente censurados
nestes barrancos áridos
para que o tempo passe
com todas as armas da culpa

No salva-vidas enquanto o meu navio se afunda
os teus olhos
dos quais nunca me poderia defender
erguem-se num louvor
capaz de ensurdecer para sempre
os que duvidam"

in Estação Central, Assírio & Alvim

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