terça-feira, 20 de novembro de 2012

Inês Dias e Diogo Vaz Pinto (2)

"Não tens de o explicar. Há frases, aliás, que imploraram para não se verem escritas. 
Possivelmente, a maioria. Teriam dado grandes momentos de silêncio. Talvez agora
não faça diferença, mas perdeste outra oportunidade.

Deve haver poucas razões. Um nervosismo, uma irritação. E depois começas a 
confrontar coisas - exercício desastroso -, escolhendo mais ou menos ao acaso, 
deixando que te intriguem por razão nenhuma. E estavas tão bem. Logo te mostras
esquisito. Tens preferências, ideias para mais alguém. Ideias.

Vamos ficar tão cansados de tudo isto. E quando não dá mais, alguém tossica uma
coisa que mal ouves. Desculpa? E repete. Alguém subitamente diz qualquer coisa de
luminoso. O espírito inquieta-se, volta-se no seu eixo trémulo.

Podemos falar longamente. Perde-se a cabeça e só muito depois nos falta a voz.
Tem-se dito muita coisa, estamos todos à espera. Assobiando por escrito. Ninguém
quis dizer nada com o que disse. Era uma disponibilidade, uma simpatia ou uma 
espécie de afectação musical. Palavras por preguiça de assumir outro risco.
Palavras que tendiam para uma vadiagem melódica. Enormes rodeios...
Depois, é claro, havia quem quisesse salvar qualquer coisa, e calcular prejuízos.
Só de pensar em todo esse tempo perdido. E logo na juventude.
Que tristeza."

in Revista Cão Celeste

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