"Sou eu outra vez.
Camada a camada a camada, vão-nos atulhando o buraco no coração, esse espaço cheio apenas de faltas e futuros, que funcionava como um búzio ainda à espera de voltar a ouvir o mar. Difícil, com tanto ruído sobre ruído sobre ruído. Há quem tente gritar por cima dos seus próprios gritos, quem se perca na reconfirmação da reconfirmação, no reconhecimento, quando ainda nos falta tanto conhecimento.
Outros esperam pela noite mais quieta, mais silenciosa. Sobem. Tentam ouvir. Ouvir-se. Contam aos outros que também já só sabem ficar acordados. Contam-se entre si.
Quantos somos? E que importa se a janela e as estrelas são as mesmas sobre as quais tínhamos lido um capítulo anterior, se a solidão ainda é o mesmo livro emprestado e não mudou de cadência?
Sim, continua a ler. Liga-me quando chegares a esse capítulo e diz-me o que achas."
in Revista Cão Celeste
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