quinta-feira, 8 de novembro de 2012

F.S. Hill


"O jardim estava deserto.
Apenas os homens.
O tempo também partira,
desesperançado.
O silêncio frio e profundo,
criava abismos entre eles.
A impossibilidade enraízara-se
lentamente nos seus olhares.
O autor não percebia 
como tinha chegado àquele
ponto mas sabia que não
podia rasgar a folha e começar
de novo.
Não era ele livre de o fazer?
Não.
O autor extinguir-se-ia
com as palavras e tudo
deixaria de fazer sentido.
É urgente continuar.
O jardim só era ainda jardim
porque alguém tinha inscrito
essa mesma palavra na pedra.
Quem eram aqueles homens?
Não conseguia ver-lhes as feições.
O vento tinha-as apagado.
Mas fora ele quem o inscrevera
no papel...
Não há forma de parar isto?
Abriu a gaveta da secretária.
Tirou de lá outra folha.
Escreveu uma só palavra nela.
De letra inclinada e irregular.
Amassou a folha com uma só mão.
Meteu-a à boca.
Não esperou muito.
O sol acabara de nascer."

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