"Os meus livros (que não sabem que existo) São uma parte de mim, como este rosto De têmporas e olhos já cinzentos Que em vão vou procurando nos espelhos" Jorge Luis Borges
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Josep M. Rodríguez (2)
Equação
"De pé neste penhasco,
aceito a mentira da paisagem.
Tudo é inacessível:
o orvalho
-que é suor vegetal-
e o comboio que passa.
Uma cegonha voa a preto e branco.
Tem o seu ninho no cimo da igreja
que fica junto ao cemitério.
Estranho paradoxo,
a pedra testemunha a fugacidade,
a carne é apenas um leito para o tempo.
(Cada osso que tenho é uma lápide
pelos mortos que escondo no meu íntimo.)
Para quê contar o tempo que nos resta?
Viver é abraçar escuridões:
do que não sabemos ao que não sabemos,
de uma distância a outra distância.
Tudo é inacessível.
Quem vê um comboio passa compreende o resto."
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