quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Josep M. Rodríguez (2)


Equação

"De pé neste penhasco,
aceito a mentira da paisagem.

Tudo é inacessível:
o orvalho
-que é suor vegetal-
e o comboio que passa.

Uma cegonha voa a preto e branco.

Tem o seu ninho no cimo da igreja
que fica junto ao cemitério.
Estranho paradoxo,

a pedra testemunha a fugacidade,
a carne é apenas um leito para o tempo.

(Cada osso que tenho é uma lápide
pelos mortos que escondo no meu íntimo.)

Para quê contar o tempo que nos resta?

Viver é abraçar escuridões:
do que não sabemos ao que não sabemos,
de uma distância a outra distância.
Tudo é inacessível.

Quem vê um comboio passa compreende o resto."


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