quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

José Amaro Dionísio

Final

"Sente o coração bater contra o rio onde o rio já não existe. Que pode
fazer um homem que desloca a fronteira nos seus passos? São sons
que provocam corredores sem saída, e batem no ar, e roem, e voltam
para trás, e recomeçam, e por cima há um odor a cadáver no céu
em ruínas. Sim, nem de outrora um pouco de vida. É um esplendor
de luto, ponto final. E isso paga-se todos os dias, mesmo quando o
dia todo se gasta a fugir disso. Pelo caminho taberna a taberna há 
sempre uma toalha ferida pelo exílio, e a proximidade das vozes só
serve para esconder a manhã inútil."

in Telhados de Vidro nº9, Averno

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