quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Jorge Roque (11)



"Músculos tensos, grito parado, a inquirição prossegue
por entre camadas de angústia cerrada. Fura, brita, escava,
alonga túneis por onde avança o corpo cerrado. Por vezes
tem a espessura de montanhas, muros sobre muros que
não acabam. Outras abre-se inesperadamente em naves
onde o eco é mais largo e o som ampliado vibra a ilusão da
interminável viagem. Uma a uma, as palavras emergem
da pedra informe, brilham contra o aço quente das brocas.
Agarra-as com as mãos feridas, confunde-as com o tacto,
mistura-as com o sangue, enquanto a tinta regista a negro
o seu traçado. Há quem lhe chame poesia. Eu só lhe posso
chamar combate.

-

"Agilidade técnica, destreza na rima, ouvido para o ritmo,
instinto harmónico - e a morte, Doutor, e a morte? Como
nas teclas os dedos do pianista, a posição exacta, momento,
peso, a ascensão e queda de cada nota, o seu trajecto contra
o silêncio que a revela - e a morte, Doutor, e a morte?
Conhecimento dos poetas de outras épocas, genealogia
da língua, amplitude e precisão do léxico - e a morte,
Doutor, e a morte? Domínio pleno do instrumento, no fundo
é disto que se trata, claridade da articulação, objectividade
expressiva, intensidade interior, saturação lírica - e a morte,
Doutor, e a morte?"

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