segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

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"Perdeu-se:

Livreira; não sabe onde se esqueceu de si mesma.
É provável que tenha deixado partes por aqui e por ali.
Perdeu a alma a semana passada (esta com certeza só voltará quando a "casa" estiver unida), e com ela centenas de livros. A poesia que unia como cola os membros inferiores e superiores ficou gasta e talvez estes tenham caído em esquinas insuspeitas.
Eventualmente a cabeça ficou num banco de um café triste, perdida no meio de conversas sem fio de meada.
O coração ficou esquecido num táxi tardio, dado em troca de moedas que faltavam.
A roupa sendo apenas um adereço, sem corpo, deixou-se ficar pelo chão de ruas gastas.
Existe um ligeiro pressentimento que os olhos tenham ficado no alto de uma rocha a contemplar um céu sem luar.
O reconhecimento de qualquer pedaço da livreira é imediato, tem aspecto de papel amarelecido, já gasto do uso que dá no manuseio e na arte de amar letras e gentes.

A quem encontrar? Devolver toda e qualquer parte na seguinte morada: perto ou longe de lugar nenhum. "

MP

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