sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Inês Dias e Diogo Vaz Pinto (4)

[Quatro]

"Já não acredito em margens. E para quê levantar a cabeça, quando o céu está podre e não me sobra alma para cartografar a luz que se passeia, melancólica, pelas moradas antigas nos postais dos mares do sul. Vivemos de coordenadas fixas: não partimos sem destino, não buscamos sem gps, não nos perdemos. Também não nos encontramos. O tempo, hoje, não dura sequer uma estação. Repete-se (revende-se?) em décimas de segundo, recordes, episódios, temporadas, turnos, contratos, gerações, moedas que caem na ranhura do hábito em troca da canção errada. Vendi as lembranças já não me lembro a quem, cortaram os subsídios para o presente, ando a pagar os sonhos a prestações. Mas amo quem me ofusca e acentua depois a escuridão dentro de mim - uma espécie de fogo a crédito. Roubado."

in Revista Cão Celeste n.º2

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