8.
"a repetição é uma forma de violência que me acompanha desde a infância, As pessoas olhavam para mim e repetiam as perguntas, os nomes das coisas, o meu próprio nome. Fixavam-me. E diziam: ele é tão distraído. Ou, com uma espécie de raiva, aproximavam a boca da minha e perguntavam: estás a perceber o que digo? Eu sentia gotas de cuspo nos lábios. Ainda hoje isso em acontece. E só não me rio porque não sei. Por vezes pratico frente ao espelho os movimentos do riso: contraio os músculos da cara, arreganho os dentes, e os olhos ficam duas frinchas. Mas não é riso, é um esgar. Tudo isto a propósito das repetições, das perguntas que se tornavam duras, cada vez mais duras, como um trilho calçado por muitos pés."
*A Mão do Oleiro
Relógio D'Água
Sem comentários:
Enviar um comentário