sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Elfriede Jelinek


"Erika domina-se até já não sentir uma única pulsão dentro de si. Suspende a existência do seu corpo porque não há ninguém que lhe salte ao caminho, qual pantera, e lhe arrebate o corpo. Ela espera e emudece. Exige do corpo a execução de impiedosas tarefas e ainda consegue elevar a seu bel-prazer o grau de dificuldade, através de armadilhas dissimuladas. Jura a si própria que as pulsões qualquer um as pode seguir, mesmo o ser primitivo, que não se coíbe de as satisfazer ao ar livre. (...)
Nas vitrinas do Cinema Metro acocora-se entretanto a carne descarada a carne rósea nas suas variadas formas, apresentações e categorias de preço. Prolifera e transborda, porque Erika neste momento não pode fazer guarda diante do cinema. O preço dos lugares sentados é normalizado, à frente é mais barato do que atrás, embora a frente se esteja mais perto e se possa ver melhor pelo corpo dentro. Numa mulher escarafuncham unhas extra-longas pintadas de vermelho sangue, na outra escarafuncha por seu lado um objecto esguio que é um chicote de montar. Ela escava um buraco na carne e mostra ao observador quem manda aqui e quem não manda, e também o observador se sente a mandar. Erika experimenta directamente na sua carne aquele escarafunchar, este indica com ênfase o seu lugar no lado dos espectadores. O rosto de uma das mulheres contorce-se de gozo, porque, é claro, o homem só pode saber através da expressão dela quanto prazer lhe está a dar e quanto prazer se desperdiçou, inutilizado."

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