segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Cormac McCarthy (3)


"Descreveu um círculo e regressou, sem nada encontrar. Por fim, cruzou o afluente e desceu ao longo da margem mais distante e logo deparou de novo com pegadas. Seguiu-as até uma pequena clareira, onde os rastos cessavam. Olhou em volta. Parecia ser o mesmo lugar onde as pegadas que subiam pela margem mais próxima haviam desaparecido. Como se aquele que as traçara tivesse encontrado naquela floresta um qualquer alter ego tenebroso com quem se fundira em harmonia química, eclipsando-se da terra sem deixar vestígio. Foi então que ouviu o menino a chorar. Voltou-se com um vago sorriso entre as suíças hirsutas e ásperas. Encontrou-o no outro extremo da clareira, num cálice de musgo, nu e a chorar em surdina, não muito mais alto que um gatinho.
Bem, bem, comentou, ajoelhando-se, és um belo resmungão, pra um pobre diabo como tu. Apalpou o corpito com um dedo estendido, como se fosse um tomate ou um melão. És filhinho das tristes ervas, não é verdade? Parece que alguém queria que tu acabasses os teus dias aqui no meio das brenhas.
Embrulhou a toalha em volta da criaturinha e apanhou-a do chão e, segurando-a contra o peitilho das jardineiras com um braço, começou a descer novamente ao longo da margem do regato."

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