quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Jorge de Sena


"Como queiras, Amor, como tu queiras. 
Entregue a ti, a tudo me abandono, 
seguro e certo, num terror tranquilo. 
A tudo quanto espero e quanto temo, 
entregue a ti, Amor, eu me dedico. 


Nada há que eu não conheça, que eu não saiba, 
e nada, não, ainda há por que eu não espere 
como de quem ser vida é ter destino. 


As pequeninas coisas da maldade, a fria 
tão tenebrosa divisão do medo 
em que os homens se mordem com rosnidos 
de malcontente crueldade imunda, 
eu sei quanto me aguarda, me deseja, 
e sei até quanto ela a mim me atrai. 


Como queiras, Amor, como tu queiras. 
De frágil que és, não poderás salvar-me. 
Tua nobreza, essa ternura tépida 
quais olhos marejados, carne entreaberta, 
será só escárneo, ou, pior, um vão sorriso 
em lábios que se fecham como olhares de raiva. 
Não poderás salvar-me, nem salvar-te. 
Apenas como queiras ficaremos vivos. 


Será mais duro que morrer, talvez. 
Entregue a ti, porém, eu me dedico 
àquele amor por qual fui homem, posse 
e uma tão extrema sujeição de tudo. 


Como tu queiras, meu Amor, como tu queiras." 


Jorge de Sena

Sem comentários:

Enviar um comentário