domingo, 19 de junho de 2011

Gustave Flaubert (2)


"Pensava algumas vezes, no entanto, que eram aqueles os melhores dias da sua vida, a lua-de-mel, como era uso dizer-se. Para lhe saborear toda a doçura, teria sido preciso, sem dúvida, irem para aqueles países de nomes sonoros onde os dias que seguem ao casamento decorrem em suave indolência! Em segues de posta, por detrás de estores de seda azul, as pessoas são transportadas a passo por encostas escarpadas, ouvindo o cantar do postilhão, que ecoa pela montanha juntando-se aos guizos das cabras e ao ruído surdo da cascata. Pelo pôr do sol, respira-se à beira dos golfos o perfume dos limoeiros; depois, à noite, nos terraços das vivendas, ambos sós, com os dedos entrelaçados, contemplam-se as estrelas, delineando projectos. Parecia-lhe que certos lugares da terra deviam produzir felicidade, como uma planta própria do solo e que se desenvolve mal em qualquer outra parte. Que pena não poder encostar-se na varanda dum chalé suiço ou encerrar a sua tristeza num cottage escocês, ao lado dum marido que vestisse casaca de veludo preto com abas compridas, e usasse botas de polimento, chapéu alto e punhos postiços!

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