terça-feira, 21 de junho de 2011

Daphne Du Maurier


"Já não reinaria este silêncio. Uma tábua do soalho rangeu na galeria. Virei-me e olhei para trás de mim. Não estava lá ninguém. A galeria continuava deserta. Mas senti uma corrente de ar na cara, alguém devia ter deixado uma janela aberta num dos corredores. O murmúrio de vozes prosseguia na sala de jantar. Estranhei que a tábua rangesse sem eu me ter mexido. O calor da noite, talvez, a velha madeira a inchar nalgum sítio. Mas a corrente de ar na cara mantinha-se. Uma partitura numa das estantes esvoaçou para o chão. Olhei para o arco ao cimo da escadaria. A corrente de ar vinha de lá. Passei de novo por ele e quando cheguei ao longo corredor vi que a porta para a ala oeste se abrira toda e batia contra a parede. Estava escuro no corredor, nenhuma das luzes acesas. Senti o vento soprar-me para a cara, de uma janela aberta. Tacteei à procura de um interruptor mas não o achei. Consegui ver a janela de lado, a cortina a ondular suavemente, para trás e para diante. A luz pardacenta da noite projectava sombras no chão. O barulho do mar chegava até mim pela janela aberta, o débil silvo da maré vazante a deixar cascalho."
Não fui fechar a janela. Fiquei lá um momento, arrepiada no meu vestido fino, escutando o suspiro do mar que se afastava da praia.

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