quinta-feira, 10 de novembro de 2011

João Ricardo Lopes (3)


Caixa de Tabaco 


"devagar os dedos tacteiam
as vísceras ao tempo


moedas, selos, cartas, uma
coleção de antigos retratos, vida
tão de nós como não nossa
tão de nós como de uma
personagem outrora no teatro


devagaro óxido da caixa 
anos-luz de viagem, quer dizer
de existência – quer dizer
a máscara após máscara com
que nos mira, sabe-se lá
de onde, o não-rosto que nos
mira


moedas, selos, cartas – quer
dizer a memória, quer dizer nós
embaulados algures no cosmo
na pele, no odor acre do tabaco


moral da história: devolvemos
o conteúdo ao silêncio e sempre
a nós próprios regressamos"


para a Marta Peixoto




a livreira confessa que até tem o coração amarfanhado, é por estas coisas que vale a pena viver no meio do papel. 
o belo poema foi retirado aqui

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