terça-feira, 22 de novembro de 2011

Aldous Huxley


"Entraram. O ar parecia quente e sofucante, de tal maneira estava carregado pelo perfume de âmbar cinzento e de sândalo. No tecto em cúpula da sala, o órgão de cores tinha momentaneamente pintado um pôr-de-sol tropical. Os dezasseis saxofonistas tocavam um motivo popular: Não Há No Mundo Que Nos Rodeia Outra como tu, Proveta Amada. Quatrocentos pares dançavam um five-step sobre o chão encerado. Lenina e Henry depressa se tornaram no par quatrocentos e um. Os saxofones gemeram como gatos melodiosos ao luar, lamuriaram nos registos alto e tenos como se estivessem desmaiando. Aumentado por uma riqueza prodigiosa de harmónicas, o seu coro balbuciante subia para uma altura mais sonora, sempre mais sonora, até que, por fim, com um gesto da mão, o chefe da orquestra desencadeou a nota final no fragor retumbante de música de ondas, expulsando de toda a existência os dezasseis assopradores simplesmente humanos. Tempestade em lá bemol maior. E então, quase um silêncio, numa meia obscuridade, seguiu-se um abaixamento gradual, em diminuendo descendente, deslizando gradualmente, em quartos de tom, até ao acorde de dominante fracamente murmurado, que se arrastava ainda (enquanto os ritmos de cinco-quatro continuavam os seus compassos no contrabaixo), carregando os obscurecidos segundos com uma intensa espera. E, enfim, a espera foi satisfeita." 

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