sexta-feira, 4 de novembro de 2011

António Barahona




Soneto Vívido
"O meu amor por ti assombra os astros
da noite escassa para o nosso amor.
Soneto vívido de versos castos,
no desgaste da boca um som de flor.


E, no engaste do teu sexo, uma rima
a completar corpo comum de dois,
substantivo ou canção que nos ensina
a fabricar ba pele ethéreos sóis.


Nas mãos, ainda, a ternura extensa,
certeira se dilui nos alvos rubros
e o riso se pratica a comer uvas.


O meu amor por ti marca presença:
dormimos virgens, e os teus ombros cubro-os,
temendo, deste inverno, as ígneas chuvas."



Silêncio
"Silêncio é uma palavra impossível.
Não corresponde a nenhuma realidade.
Não há silêncio no cosmos
nem em cada um de nós.
Numa sala sem eco,
entre paredes de cimento isolante,
ouve-se ecoar a circulação
do nosso próprio sangue."


O Jejum
"Os dias e as noites adquirem uma nitidez deslumbrante. As horas regressam à sua etimologia e constituem, de facto, de fato novo, orações."


Reconstrução
"Reconstruir o pensamento religioso
em cada gesto,
em cada acto do quotidiano:
de tudo, até ao mais ínfimo,
ter a consciência do seu todo.


Reconstruir a harmonia com o cosmos
à custa da dissonância nos versos
e da distância que se move os remos.


Reconstruir a estrada sobre a água
pra navegar em direcção ao fogo
do nosso amor plo mundo, que naufraga.


Reconstruir a vida pra nascer de novo."

*Fotografia "roubada" aqui

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