terça-feira, 8 de novembro de 2011

Edgar Allan Poe

"Tu eras para mim, amor, amor sem par,
Tudo o que a alma vivia desejando:
Uma ilha verde, amor, em pleno mar,
Minha fonte e sacrário, e isto ornado
De frutos e de flores de encantar,
E era eu só que das flores tinha o mando.

Sonho ardente de mais para durar!
Ah, Esperança estrelada, só nascida
Para um dia mais tarde se toldar!
Do futuro essa voz se fez ouvida:
«Segue em frente» - mas somente o Passado
(Triste abismo!) o meu espírito convida
E deixa mudo, imóvel, aterrado!

Porque, ai, para o meu ser, ultimamente,
Da vida o lume quis apagado.
«Não mais, não mais, não mais (diz, impotente,
O mar solene, vendo do outro lado
A areia que na praia lhe faz frente)
Há-de dar fruto o tronco fulminado,
Ou a águia ferida ergue-se novamente.

É puro transe agora o meu viver
E os sonhos que de noite me atormentam
São onde os olhos teus procuram ver
E onde os saudosos passos teus inventam
Etéreas danças que me é dado entrever
Nas margens que na Itália se adormentam.

Pobre de mim, que um dia malfadado
De mim te arrebataram, mas afora,
Trocando Amor por título aviltado,
E num profano leito estás agora,
Longe das brumas nossas, do meu lado,
Onde o salgueiro de prata agora!"

in O Encontro

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