quarta-feira, 18 de abril de 2012

Pablo Neruda

O Teu Riso

"Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria."

in Cem Sonetos de Amor

2 comentários:

  1. "Nymphe, se revêtant toujours
    de ce qui la dénude,
    que ton corps s'exalte pour
    l'onde ronde et rude.

    Sans repos tu changes d'habit,
    même de chevelure;
    derrière tant de fuite, ta vie
    reste présence pure."

    Rainer Maria Rilke

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  2. "Quando a nossa voz se calar,
    outras virão…
    Mas, neste momento, que hei-de eu fazer,
    para te fazer chegar o meu imenso
    coração que te completa?"

    Rilke

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