"Calaram-se todos os poemas, restou só o silêncio da morte sem mácula. Calaram-se todas as esperanças, restou só o movimento dos meus gestos sem futuro. Contra o céu maior da eternidade da minha morte, da eternidade da morte de tudo, todo o som é vão, toda a resposta inútil.
Bichos que nascem, crescem, lutam, cansam, ganham, perdem, morrem. Para lá disto só o amor, por um instante maior que a morte. Para lá disto só o amor que também morre.
Porque é aqui mesmo que estamos, com maior ou menor ilusão. E aqui mesmo permanecemos, sem ilusão também. Porque tão pouco a negação da glória o alcança, num sentido digamos religioso. Como não o alcança o oco da glória, num sentido ardentemente chão que não pode ser mais alto do que o chão que há.
Porque é isso mesmo que sobra:nada. E é deste mesmo excesso que a vida se faz."
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