"Os meus livros (que não sabem que existo) São uma parte de mim, como este rosto De têmporas e olhos já cinzentos Que em vão vou procurando nos espelhos" Jorge Luis Borges
terça-feira, 17 de abril de 2012
Lev Tolstói
"Quando entrou na sala de estar tudo lhe pareceu louco e antinatural. Ainda de manhã se levantara enérgico, com a firme decisão de acabar, de esquecer, de se proibir de pensar nela. Porém, contra a sua vontade, passou toda a manhã sem de interessar pelo trabalho, fazendo tudo para se libertar dele. O que havia pouco era importante para ele e lhe dava prazer parecia agora insignificante. Inconscientemente, tentava esquivar-se do trabalho, achava que só podia reflectir e analisar as coisas se se livrasse dele. Pôs então de lado todas as tarefas e isolou-se. Mal ficou sozinho, porém, foi vaguear pelo jardim, pela floresta. Sentia que todos os lugares por onde passava estavam emporcalhados pelas recordações, recordações que ao mesmo tempo o fascinavam. Deu por si a andar pelo jardim e a dizer a si mesmo que estava a reflectir em qualquer coisa, mas na verdade não pensava em nada, apenas esperava por ela numa ânsia louca, infundada, esperava por ela, por um qualquer milagre, percebesse como ele a desejava e aparecesse de repente, ali ou noutro sítio onde ninguém os visse, ou de noite, sem lua, e nem ela o veria, e ele tocaria o seu corpo..."
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário