quinta-feira, 1 de março de 2012

Nuno Júdice (5)

Fumo

"A luz da manhã limpou as sombras da noite,
num gesto de vassoura, atenta e rápida.
Agora, tudo é suave e transparente, como
o frio seco que sacode os pássaros e as folhas.

Passo neste mundo natural que a manhã
me oferece; e só falta um fio de fumo
dessas cinzas em que o dia aquece as mãos,
enquanto o vento não sopra a apagá-las.

Dia e noite juntam-se nesse fumo
em que o céu respira; e a sua linha
desenha no ar uma frágil fronteira.

Para um lado, o espaço sem limites
em que tudo premanece; para aqui, o breve
sentimento do eterno, antes que o fumo se dissipe."

in O Breve Sentimento do Eterno, Edições Nelson de Matos

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