sexta-feira, 23 de março de 2012

Ana Hatherly (2)

A matéria das palavras


"Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.

O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.

Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.

Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.

Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.

Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma
                                                                        perfeição
especialista em fracassos.

Estrangeiros sempre
agudamente colhemos os frutos discordantes."

in O Pavão Negro, Assírio & Alvim

2 comentários:

  1. "ofereces ainda a doçura de teus frutos
    a sombra de tuas folhas
    a firmeza do teu apego à terra"

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  2. "Diante deste lago
    tão vasto que parece um mar
    oiço o leve ruído das suas pequeninas ondas
    estirando-se na areia.
    Um lago é uma água prisioneira:
    só o mar atira para fora
    para longe
    Mas também o mar está preso à terra."

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