sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Telhados de Vidro (7)


Este Choro Que Arranha e Lava


2
"Era assim que agora lhe saíam as palavras. Como pedras das mãos espantadas. Como gritos, como facas subitamente desferidas contra a página onde se calavam. Longe ia o tempo dos ofícios desesperados. Longe ia o tempo também das crenças iluminadas. As palavras, essas que sem querer continuava a escrever, já não sabia procurá-las, chamar por elas, vagarosamente prendê-las no seu redil. E era sem que o esperasse mais feliz assim. Lábios nos lábios com a forma da sua boca fechada. 


3
"Toda a vida tentara entender a vida, vivê-la como ideia que pudesse pensar. Só agora percebia que a vida era outra realidade. Uma brisa inesperada na face. Uma areia encravada sob a pálpebra. Nada que alguma vez tivesse pensado. Esta lágrima. Este choro que arranha e lava."


Jorge Roque




*Telhados de Vidro nº12 da (fabulosa) Averno

Sem comentários:

Enviar um comentário