quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

António Ramos Rosa (2)

O horizonte das palavras

"Sem direcção, sem caminho
escrevo esta página que não tem alma dentro.
Se conseguir chegar à substância de um muro
acenderei a lâmpada de pedra na montanha.
E sem apoio penetro nos interstícios fugidios
ou enuncio as simples reiterações da terra, 
as palavras que se tornam calhaus na boca ou nos meus passos.
Tentarei construir a consistência num adágio 
e sílabas silvestres, de ribeiros vibrantes.
E na substância entra a mão, o balbucio branco
de uma língua espessa, a madeira, as abelhas,
um organismo verde aberto sobre o mar,
as teclas do verão, as indústrias da água.
Eu sou agora o que a linguagem mostra
nas suas verdes estratégias, nas suas pontes
de música visual: o equilíbrio preenche os buracos
com arcos, colinas e com árvores.
Um alvor nasceu nas palavras e nos montes.
O impronunciável é o horizonte do que é dito."

in Acordes, Quetzal

Justo Jorge Padrón

Limos do Desprezo

"Se pudesse olhar-me na sede dos teus olhos
em nenhum território perderia os meus vestígios.
Os segredos mais ácidos secariam
as suas ocultas raízes destruidoras,
as sílabas clementes do perdão
voltariam a ouvir-me comovidas
sob as grandes asas de uma luz aprazível. 
Mas a cabeça assegura o seu erro no delírio.
Sente elevar-se a sombra que o desprezo derrama,
onde só surge a impiedade
de uma tribo de espectros dilacerantes. 
Ainda continuo contigo, meu desolado corpo,
incapaz de morrer, vislumbrando os dois
terríveis abandonos: a morte sem repouso
e a vida que morre sem viver nem se extinguir."

in Extensão da Morte, Teorema

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Put the book back on the shelf

Truman Capote (3)



"Lá longe, dois falcões planavam por cima do fumo amarelo que se elevava em espiral da chaminé da cozinha de Landing. Devia ser a Zoo a fazer o jantar, pensou ele, parando na berma da estrada a calcar uma colónia de formigas que comiam uma rã morta. Estava farto da comida de Zoo; era sempre a mesma coisa, acelgas, inhames, grão-de-bico, pão de milho. Naquele momento só lhe apetecia encontrar o Homem de Neve. Todas as tardes, em Nova Orleães, o Homem de Neve aparecia a empurrar a sua carripana deliciosa, a tocar a sineta deliciosa e, por umas moedinhas, comprava-se um cone de gelo perfumado com uma dúzia de aromas: cereja, chocolate, uva, amora, tudo misturado como um arco-íris.
As formigas fugiam como faúlhas e, pensado em Idabel, Joel começou a saltaricar, esmagando-as com o pé, mas aquela dança malévola não conseguiu diminuir a dor do insulto. Espera! Espera até ele ser Governador, havia de pôr a polícia no seu encalço, havia de a mandar para um calabouço com um pequeno alçapão no tecto por onde ele poderia espreitar e rir-se dela."

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

As I Sat Sadly By Her Side

Jorge Fallorca

"Contaram-me que as letras descansam de lado, nas páginas macias dos livros antigos. 
Outros afirmam-me que os textos mudam ao sabor das edições, e que nenhuma se compara
à que se leu primeiro.

Há ainda quem me confidencie que recebe os livros de braços abertos, às vezes até com as pernas,
e dou por mim a olhar para as lombadas que me rodeiam, a senti-las latejar como um animal magnífico,
alheio a interpretações domésticas.

Sei que se estender a mão o irei acordar; prefiro entreter-me a escrever este texto,
onde as letras são ainda verticais e se estampam no papel, como uma mancha de tinta,
uma ave suicida, um eco sem som.

                                                                 *

Também conheço um poeta exilado num condomínio de metáforas. Rodeou-se de palavras
que cultica em cadernos e guardanapos de papel, com a dedicação e a paciência de um
jardineiro cego.

Ninguém se atreve a dizer-lhe que nem as piteiras sobrevivem na aridez desse jardim meticulosamente
escrito, onde passa horas infindáveis a podar o vazio e a regar o silêncio que brota
das suas páginas inéditas.

E, no dia em que morrer, uma duna será tudo o que restará da sua obra, que o vento
e o tempo se encarregarão de aliviar do jugo das metáforas.

                                                             *

E conheço uma música frágil como a chuva ou as lágrimas evitadas. É uma música 
que ouço muitas vezes enquanto escrevo ou leio, ou que ecoa dentro de mim enquanto 
leio o que escrevi.

Cada vez que a ouço, que percorro o teclado infindável do piano onde me refugio,
esqueço-me do que escrevi e leio as lágrimas que não chorei sulcadas no meu rosto,
à espera que chovesse.

Que me lembre, é uma música onde tu não estás. Uma música que se calhar até nem existe, ou
não existe assim, e não passa de uma desajeitada desculpa para finalmente poder chorar."


in Telhados de Vidro nº11, Averno

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Spend all your time with your eyes on the ground

Rui Caeiro

A Dois Passos

"Quando penso em ti, essoutra que eu nunca mais
soube ao certo quem era, ou quem eras, em ti
e em tudo aquilo que me deste, tanto que eu
nunca soube onde colocar e logo vinha o vento
e levava, quando penso em ti e mais em tudo
o que deixaste avariado na minha vida e eram
todos os pobres artefactos dela, da minha vida
quando penso em ti, isto é, quando penso em 
nós, nessa coisa insólita e paupérrima que nós
éramos, ou que nós fomos um dia, é no inferno
é ainda e só e mais uma vez no inferno que eu
penso - esse tempo esse calor esse frio essa espera
insuportável. É no inferno que penso, mas devo
reconhecer, em abono da verdade, que não era
no inferno que nós estávamos, era a dois passos
dele e se queres mesmo saber era agradável
pela boa e simples razão de que não havia mais
nada, era intensa e insuportavelmente agradável
Faltava um pouco o ar, é certo, mas quem é que
se ia importar com uma coisa dessas, havia um calor
que nos enregelava os ossos, havia um frio que nos
aquecia. Era a dois passos do inferno - estava-se bem."

in Telhados de Vidro nº12, Averno.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

José Tolentino Mendonça

A presença mais pura

"Nada do mundo mais próximo
mas aqueles a quem negamos a palavra
o amor, certas enfermidades, a presença mais pura
ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância da língua comum deixaste
o teu coração?»

a altura desesperada do azul
no teu retrato de adolescente há centenas de anos
a extinção dos lírios no jardim municipal
o mar desta baía em ruínas ou se quiseres
os sacos de supermecado que se expandem nas gavetas
as conversas ainda surpreendentemente escolares
soletradas em família
a fadiga da corrida domingueira pela mata
as senhas da lavandaria com um 'não esquecer' fixado
o terror que temos
de certos encontros de acaso

porque deixamos de saber dos outros
coisas tão elementares
o próprio nome

ouve o que diz a mulher vestida de sol
quando caminha no cimo das árvores
«a que distância deixaste
o coração?»"

in Baldios

Cause, I built a home

Desassossego (11)

"Todos têm, como eu, um coração exaltado e triste. Conheço-os bem: uns são moços de lojas, outros são empregados de escritório, outros são comerciantes de pequenos comércios; outros são os vencedores dos cafés e das tascas, gloriosos sem saberem no êxtase da palavra egotista, a contento no silêncio do egotismo avaro sem ter que guardar. Mas todos, coitados, são poetas, e arrastam, a meus olhos, como eu aos olhos deles, a igual miséria da nossa comum incongruência. Têm todos, como eu, o futuro no passado.

Agora mesmo, que estou inerte no escritório, e foram todos almoçar salvo eu, fito, através da janela baça, o velho oscilante que percorre lentamente o passeio do outro lado da rua. Não vai bêbado; vai sonhador. Está atento ao inexistente; talvez ainda espere. Os Deuses, se são justos em sua injustiça, nos conservem os sonhos ainda quando sejam impossíveis, e nos dêem bons sonhos, ainda que sejam baixos. Hoje, que não sou velho ainda, posso sonhar com ilhas do Sul e com Índias impossíveis; amanhã talvez me seja dado, pelos mesmos Deuses, o sonho de ser dono de uma tabacaria pequena, ou reformado numa casa dos arredores. Qualquer dos sonhos é o mesmo sonho, porque são todos sonhos. Mudem-me os deuses os sonhos, mas não o dom de sonhar."

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Quando uma só vida não chega para filmes assim (18)

Rainer Maria Rilke

"Talvez pesadas montanhas atravesse
por duros veio, sozinho com um mineral;
estou a tal profundidade, que não há fim que ver pudesse
nem distância: a proximidade é tudo o que acontece
e toda a proximidade é pedra, afinal.

Não sou ainda entendido em sofrimento,
por isso esta grande escuridão me empequenece;
mas se fores Tu: torna-te pesado, aparece:
que tua mão em mim tenha cumprimento
e eu em ti com o meu relicário sedento."

in O Livro De Horas

Alexandre O'Neill

O amor é o amor

"O amor é o amor - e depois?!
Vamos ficar os dois
a imaginar, a imaginar?..

O meu peito contra o teu peito,
cortando o mar, cortando o ar.
Num leito
há todo o espaço para amar!

Na nossa carne estamos
sem destino, sem medo, sem pudor,
e trocamos - somos um? somos dois? -
espírito e calor!
O amor é o amor - e depois?!"



in Poesias Completas 

be soft don't be stern

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Herberto Helder (4)

"Deitei-me também no campo
de outras coisas. Com discuro. Com
rigoroso segredo.
Vi o caçador levantar o arco-íris
e atirar, fechada, a morte
ao cabrito primaveril.
E tudo calei como experiência
de um sono inspirado.
Vi a ressurreição, maio
infestado. Ouvi
passar o ciclista da primavera
sobre o ruído da ressurreição. 
Conheci a existência do roubador, o ciclista
que penetra no exemplo da fábula.
Estou deitado em meio campo
de uma espécie de despedida.
Meio campo de maio, e outro meio
de pessoalíssima vida.

São coisas que já não estão mais
do que na maturidade da idade.
Fiz comércio. Indústria. Dor.
A garganta lavrada pelo canto.
Ia a bicicleta com o seu poeta que punha a mão
no poema da bicicleta.
E iam todos - poema, bicicleta, poeta e mão - 
por sobre o coração da terra e a ressurreição
da primavera. Ganhei
a minha idade concluída.
Cacei. Ou plantei. Ou cortei.
A vida vida.
Havia o movimento com a sua bicicleta
e a canção com o seu poeta.
A vida merecida."

in Oficio Cantante

I stick in their heart like a rusty spur

Desassossego (10)

"Viver uma vida desapaixonada e culta, ao relento das ideias, lendo, sonhando, e pensando em escrever, uma vida suficientemente lenta para estar sempre à beira do tédio, bastante meditada para se nunca encontrar nele. Viver essa vida longe das emoções e dos pensamentos, só no pensamento das emoções e na emoção dos pensamentos. Estagnar ao sol, douradamente, como um lago obscuro rodeado de flores. Ter, na sombra, aquela fidalguia da individualidade que consiste em não insistir para nada com a vida. Ser no volteio dos mundos como uma poeira de flores, que um vento incógnito ergue pelo ar da tarde, e o torpor do anoitecer deixa baixar no lugar de acaso, indistinta entre coisas maiores. Ser isto com um conhecimento seguro, nem alegre nem triste, reconhecido ao sol do seu brilho e às estrelas do seu afastamento. Não ser mais, não ter mais, não querer mais... A música do faminto, a canção do cego, a relíquia do viandante incógnito, as passadas no deserto do camelo vazio sem destino..."

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Al Berto (6)

"esqueço-me de tudo, por isso escrevo, longe do terror ao sismo inesperado das estrelas,
escrevo com a certeza de que tudo o que escrevo se apagará do papel no momento da
minha morte.
o olhar fugiu pelos interstícios dos objectos, sinto-me como se tivesse cegado por excesso
de olhar o mundo. as palavras para nomear o que é belo definharam, raramente as escrevo,
penso-me só. aqui sentado, imobilizado pela luz amarelenta do candeeiro, continuo a desejar aquilo que nunca verei: a cintilização dum corpo na cal, o sorriso dum rosto ardendo de suicídio em suicídio.
ignoro o mundo e a noite que o envolve e devora. deixo escoar o cansaço do corpo pela janela do quarto. fecho os olhos, finjo o sono, e vou pelos lugares desabitados do meu corpo.
a noite cheira a musgo molhado e a bolor. excrementos de aves acumularam-se 
na palma das mãos, sujam aslinhas do destino e do coração. um pano de flanela resguarda da poeira
os poucos brinquedos que resistiram às mudanças de casa. a humidade manchou a memória.
levanto-me da cama, arrasto-me até à janela. o mar talvez se aviste dali. mas o mar só se torna nítido
quando sonho, não se consegue avistar da janela. volto a deitar-me.
o mar, o dos sonhos, depositou sal luminoso nos cantos da casa, formando desérticas paisagens
onde queimo os dedos, o tacto, vagarosamente. nos corredores já não é possível encontrar sinais de 
passsos nem de facas pelas paredes. silêncio, apenas o silêncio com gumes de luz atravessa o alicerce
ósseo da casa.
lá fora, os estames porosos dos hibiscos oferecem-se aos insectos, crescem como cabelos. o polén das acácias embriaga quem se aproxima da casa, ou quem ousa lavrar as incertezas da noite num lençol
sujo de insónias e de agonia. 
dentro e fora da casa, as sombras dos mortos esburacam a terra e os soalhos, colam-se aos corpos dos que permanecem aqui."

in O Medo

This june bug street sings low and lovely

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Quando uma só vida não chega para filmes assim (17)

Nuno Júdice (4)

Eco

"Hoje, perguntando onde estás, e o
que fazes, ouço as palavras tristes
da solidão que me responde, sem
nada me dizer, ao dizer-me tudo.

O que fazes e onde estás, pergunto
ao silêncio que me deixaste; e ouço
em mim a resposta, num eco que
vem de ti, perguntando por mim.

E neste espelho que entre mim e ti
a ausência constrói, outro espelho
reflecte o vazio da sua imagem, até

esse infinito em que a minha pergunta
te responde, para que me devolvas
o eco em que as nossas vozes se juntam."

in O Breve Sentimento do Eterno

Cormac McCarthy (4)

"Com quê, uma caçadeira?
Pois.
Por roubares melancias.
Pois.
Suttree sentou-se na cama de baixo e ergueu um pé e começou a massajar o tornozelo. Ao fim de um certo tempo, ergueu os olhos. Harrogate estava deitado de bruços, a espreitar sobre a borda do catre. 
Deixa lá ver onde é que levaste essa chumbada, disse Suttree.
Harrogate ajoelhou-se na cama e arregaçou a camisola. Pequenas pregas cor de malva cobriam-lhe a carne pálida pelo flanco abaixo, como cicatrizes de bexigas.
Também tenho a perna toda cheia disto. Ainda não consigo andar como deve ser.
Suttree levantou o rosto para fitar os olhos do rapaz. Iluminados por uma espécie de percepção animal, por uma benevolência incipiente. Bom, disse. Está a ficar uma autêntica selva, este mundo, não é verdade?
Caramba, eu cá pensei que tinha morrido.
Tens sorte em estares vivo, dá-me impressão.
Foi o que me disseram lá no hospital.
Suttree estendeu-se na cama. É preciso um tipo ser muito sacana para dar um tiro em alguém só porque lhe roubou meia dúzia de melancias, hem? disse."

domingo, 12 de fevereiro de 2012

If you could see inside and underskin

Ana Hatherly

Um rio de luzes



"Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca


No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta


Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido"

in O Pavão Negro 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Desassossego (9)

"Suponho que seja o que chamam um decadente, que haja em mim, como definição externa do meu espírito, essas lucilações tristes de uma estranheza postiça que incorporam em palavras inesperadas uma alma ansiosa e malabar. Sinto que sou assim e que sou absurdo. Por isso busco, por uma imitação de uma hipótese dos clássicos, figurar ao menos em uma matemática expressiva as sensações decorativas da minha alma substituída. Em certa altura da cogitação escrita, já não sei onde tenho o centro da atenção - se nas sensações dispersas que procuro descrever, como a tapeçarias incógnitas, se nas palavras com que, querendo descrever a própria descrição, me embrenho, me descaminho e vejo outras coisas. Formam-se em mim associações de ideias, de imagens, de palavras - tudo lúcido e difuso -, e tanto estou dizendo o que sinto, como o que suponho que sinto, nem distingo o que a alma me sugere do que as imagens, que a alma deixou cair, me enfloram no chão, nem até, se um som de palavra bárbara, ou um ritmo de frase interposta, me não tiram do assunto já incerto, da sensação já em parque, e me absolvem de pensar e de dizer, como grandes viagens para distrair. E isto tudo, que, se o repito, deveria dar-me uma sensação de futilidade, de falência, de sofrimento, não conseguem senão dar-me asas de ouro. Desde que falo de imagens, talvez porque fosse a condenar o abuso delas, nascem-me imagens; desde que me ergo de mim para repudiar o que não sinto, eu o estou sentindo já e o próprio repúdio é uma sensação com bordados; desde que, perdida enfim a fé no esforço, me quero abandonar ao extravio, um termo clássico’, um adjectivo espacial e sóbrio, fazem-me de repente, como uma luz de sol, ver clara diante .de mim a página escrita dormentemente, e as letras da minha tinta da caneta são um mapa absurdo de sinais mágicos. E deponho-me como à caneta, e traço a capa de me reclinar sem nexo, longínquo, intermédio e súcubo, final como um náufrago afogando-se à vista de ilhas maravilhosas, em aqueles mesmos mares doirados de violeta que em leitos remotos verdadeiramente sonhara."

A ex-Livreira

Ficou um espaço no coração...
Os dedos já não percorrem lombadas, a pele já não sente o macio das páginas...
O olfacto deixou de sentir o cheiro pungente a papel que o avassalava logo pela manhã...
Os olhos deixaram de percorrer prateleiras na busca de um autor, de um título...
O sorriso morreu na cara por já não entusiasmar ninguém a ler...
Certas palavras deixaram de fazer sentido, tais como: leitores...
Mas ficou a paixão, o brilho no olhar, o conhecimento, o agradecimento, o engrandecimento...
Ficou sobretudo, a imensa paz que traz o ruído silencioso de uma livraria... 
E o coração de papel... ainda não deixou de bater!


Uma vez que se foi livreiro... ficamos livreiros para sempre.