segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Possidónio Cachapa


"Malfadado calor que me amolecia a vontade e me deixava angustiado à espera do tempo que não passava. A perna partida e a mulher na cidade não ajudavam à festa. Ali estava eu, com quilómetros de terra entre mim e o mundo a ouvir a conversa dos meu parentes. Ela, vestida de chita às flores miudinhas e azuis. Ele, de negro, o chapéu à banda na cabeleira suada. A coisa típica, dizer mais para quê? A comichão do gesso a meter-me formigas na epiderme. E as ditas a correrem, desordeiras, entre as frinchas do muro caiado. O branco a queimar-nos os olhos, a todos. Nem a visão das ervas ressequidas me matava esta sede de verde, que o Alentejo faz. Só as videiras resistiam, por cima do pequeno corredor aberto, em jeito de telheiro, na frente dos quartos. Ou nas alturas do tanque, escrupulosamente limpo, onde os nabos e as verduras da horta mergulhavam na sua forma de alimentos. 
Sol a queimar e a gente entediada a ver o que nada tinha para ver."

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