Lendo Petrarca
"Gli suspiri al freddo cuore,
alguém o disse, pouco crente
na fiabilidade do sentimento
e deixando ao pintor a tarefa
de reter sob espessas camadas
de tinta o segredo que para si,
defendendo-o do exterior,
guardara o livro. Todos
os mortos têm uma segunda
vida (pensou): pela poesia,
manto que os devolve à luz
numa carne que os torna -
para quem neles acreditou -
ainda mais puros e vivos.
De tuoi sguardi mio ardore,
murmurou, aceitando
viver com as dores que
o defendiam das dúvidas
quanto ao carácter salvífico
do sacrifício. Amara-a
sem necessitar de palavras,
a não ser as que ela lhe
doou, debruadas a sangue
no miolo do precipício.
Era esse o seu legado:
encontrar um significado
para palavras que a paixão
conservou mesmo depois
de exauridas na pequenez
dos seus múltiplos sentidos."
in Telhados de Vidro nº6
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