domingo, 7 de agosto de 2011

Milan Kundera


"Oh, como se passara tudo ao contrário do que ela quisera! Sonhara morrer misteriosamente. Fizera tudo para que ninguém pudesse saber se a sua morte fora um acidente ou suicídio. Quisera enviar-lhe a sua morte como sinal secreto, um sinal de amor vindo do além, só para ele compreensível. Fora tudo bem previsto excepto, talvez, o número de soníferos, excepto, talvez, a temperatura que, enquanto ela adormecia, subira. Pensara que o gelo a ia mergulhar no sono e na morte, mas o sono era demasiado fraco; abrira os olhos e vira o céu negro.
Os dois céus tinham dividido a sua vida em duas partes: o céu azul, o céu negro. Era sob este outro céu que ia em direcção à sua morte, a sua verdadeira morte, a morte longínqua e trivial da velhice. 
E ele? Ele vivia sob um céu que para ela não existia."

Sem comentários:

Enviar um comentário