"Se olhares para cima
conseguirás ver as formações
que o vento levantou
da memória da planície?
Metros depois, a atmosfera
envenenou-se, confrontando-o
com os últimos espécimes
de uma criação cujas propriedades
negam tudo sobre a vida
que tinha aprendido.
A única certeza vem-lhe
da incomodidade do corpo
de que partes se desprendem
que o vento depois distribui
por páginas onde árvores
crescem deformando-se
só para nos presentear
com títulos que, resinosos,
nos alteram o destino.
Destroem-nos a boca?
Já no pensamento corre
a visão de seres que
se abocanham pelo som
sugerindo, com as suas
combinações, formas,
nunca vistas do funcio
namento do organismo.
O problema está em suster
a visão tempo suficiente
para que ela nos acompanhe
na memória da descida.
Se não, como reconhecer
o corpo que a memória
juntou com os destroços
dourados da aventura?"
in Telhados de Vidro nº8, Averno
Sem comentários:
Enviar um comentário