"Os meus livros (que não sabem que existo) São uma parte de mim, como este rosto De têmporas e olhos já cinzentos Que em vão vou procurando nos espelhos" Jorge Luis Borges
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Helder Moura Pereira (5)
"Assaltou-me a dúvida. Dei
o que tinha, que remédio, a dúvida
apontava-me uma pistola, que podia
ser de carnaval, mas também
podia não ser. E aí está
como a dúvida me levou
tudo. Socorri-me do amor, pedi
que me defendesse, mas o amor
fez orelhas moucas, o mais
que consegui foi que me deitasse
sortes, sortes que disseram
para eu contrariar a dúvida
com outra dúvida maior.
Doesse a quem doesse,
furiosamente escrevi resmas
e resmas de papel, baptizei
a minha nova dúvida de verdade
(muito conveniente), e fiz
o pino, trocei de mim, fiz pouco
das outras verdades que fui
encontrando nos livros
à medida que quis conhecer
o conteúdo exacto de todas
as religiões e depois, com seca
frieza e decisão, abracei-me
à dúvida por uma ribanceira"
Sem comentários:
Enviar um comentário