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"Às vezes corro as cortinas e lanço um olhar ávido ao mundo, interrogo-o, mas não recebo nenhuma mensagem, salvo a do caos e da confusão: automóveis circulando, peões atravessando a praça, lojas acendendo as luzes, escavadoras sulcando um terreno baldio, pássaros errantes procurando um remanso no bulício. São os dias nefandos, nos quais nada conseguimos desvendar, pois a nossa consciência está excessivamente toldada pela razão e os nossos olhos embaciados pela rotina. Limpar ambos do que os embaraça não é tarefa fácil. Umas vezes conseguimo-lo mediante um esforço de concentração, outras acontece naturalmente, graças a um trabalho interior no qual não tivemos uma participação deliberada. Só então a realidade entreabre as suas portas e podemos visualizar o essencial."
in Prosas Apátridas
Ahab
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