domingo, 9 de outubro de 2011

Daphne du Maurier (2)

Os Pássaros


"Ao voltar para casa no seu passo pesado através dos campos e pela azinhaga que levava à sua casa, Nat viu que os pássaros continuavam a formar bandos sobre as colinas a oeste, à luz dos derradeiros raios de sol. Não corria vento, e o mar cinzento estava calmo e cheio. Candelárias ainda em flor nas sebes e o ar ameno. Contudo, o lavrador tinha razão, e foi nessa noite que o tempo mudou. O quarto de Nat era virado a leste. Ele acordou pouco depois das duas e ouviu o vento na chaminé. Não a ventania e as rajadas súbitas de um temporal de sudoeste, que traz chuva, mas um vento de leste, frio e seco. Fazia eco na chaminé, e no telhado uma lousa solta batia. Nat pôs-se à escuta, e ouviu o mar a bramir na baía. Até no pequeno quarto o ar arrefecera: uma corrente de ar entrava por baixo da porta e ia directa à cama. (...)
Depois ouviu toques leves na janela. Não havia trepadeiras nas paredes da casa que se soltassem e roçassem nas vidraças. Ficou à escuta e as pancadinhas continuaram, até que, irritado com o som, saiu da cama e foi à janela. Abriu-a e, conforme o fez, qualquer coisa lhe aflorou ao de leve a mão, picando-lhe os nós dos dedos e arranhando a pele. Então viu o bater de asas, que logo desapareceu por cima do telhado, para trás da casa."

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