"desculpa
o que te queria dizer talvez não fosse isto
a solidão turva-se-me de lágrimas
e nas pálpebras tremem visões do meu delírio
olho as fotografias de antigos desertos
corpos coerentes que fomos
bocas de papel amarelecido
onde a sede nunca encontrou a sua água
e às vezes ainda tenho sede de ti
mas na vertigem da viagem o coração galopa desordenadamente
no écran da memória acende-se a imagem da mulher que amei
quase nítida vejo-te sentada
à porta da rua bordando um pano de linho branco
só esta imagem transportei comigo
embora nunca tenha conseguido saber o que bordavas
uma colcha? uma toalha? um sudário?
também nunca to perguntei
tinha tempo de sobra para o descobrir
vivíamos longe da cidade espreitavas a nesga de mar
como uma risca de azul cerúleo ao fim da rua"
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