quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Gao Xingjian


O templo


"Nadávamos numa felicidade perfeita, no desejo, no amor louco, na ternura e na doçura da viagem de núpcias que se seguira ao nosso casamento, embora só tivéssemos quinze dias de férias: dez dias concedidos para a ocasião e uma semana de férias normais. O casamento é uma questão para toda a vida, para nós nada poderia ser mais importante, como poderíamos não ter pedido alguns dias suplementares? Mas o meu chefe, tão avarento, regateava quase ao centavo cada vez que alguém pedia férias, era duro. Inicialmente, na autorização estava assinalada uma dispensa de duas semanas, mas ele transformara-a numa semana, e depois dissera-me um pouco embaraçado: "Espero que possa voltar a tempo". - "Certamente, certamente, respondera eu, o nosso pequeno salário não nos permitirá demorar a viagem." Então ele acabou por assinar de uma penada. As férias foram concedidas.
A partir daí deixava de ser solteiro. Tinha uma família. De facto tinha combinado esta viagem com Fangfang há muito tempo. A partir de agora, constituíamos uma família, já não poderia, ao receber o meu salário no princípio do mês, ir ao restaurante, convidar amigos, gastar à vontade e chegar ao fim do mês sem tostão, sem poder sequer comprar um maço de cigarros, obrigado a procurar nas algibeiras ou a virar gavetas para desencantar alguns trocos. É melhor nem falar nisso. Dizia que estávamos felizes. De facto, a felicidade é bastante rara na nossa vida tão curta."

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