"Os meus livros (que não sabem que existo) São uma parte de mim, como este rosto De têmporas e olhos já cinzentos Que em vão vou procurando nos espelhos" Jorge Luis Borges
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Rui Nunes
13.
"há nas casas uma pobreza tão grande que por mais que as enchamos de mesas, quadros, livros, cadeiras, tapetes, estão sempre vazias. Aquilo que vejo, ao entrar numa sala, é o vazio a espreitar por entre os móveis, recortado nas paredes pelos quadros, camuflado nas janelas pelas cortinas, o vazio das portas fechadas e o vazio das portas abertas: o vazio que esconde um vazio, e o vazio que mostra um vazio, também as pessoas carregam essa falta, logo atrás dos olhos, ou nos olhos, nas pupilas, e que se expande quando nos aproximamos delas e vemos a desaparecer tudo o que chamamos humanidade, até surgir a abertura de um poço, ou um furo de sovela, é por isso que os carrascos matam, porque das vítimas conhecem unicamente esses buracos circulares, como eu das casas só conheço o vazio que as habita, talvez eu nada mais tenha aprendido a ver,"
Sem comentários:
Enviar um comentário